Razões do silêncio do governo cubano diante da queda de seu aliado Bashar al-Assad na Síria

Esse mutismo contrasta com seu histórico apoio à ditadura síria.

Bashar Al-Assad en La Habana © Facebook
Bashar Al-Assad em HavanaFoto © Facebook

O governo de Cuba manteve-se em absoluto silêncio após a queda, neste domingo, de Bashar al-Assad, o presidente sírio, cuja família esteve no poder por mais de 50 anos, exercendo uma ditadura na nação árabe.

Enquanto Miguel Díaz-Canel e Bruno Rodríguez Parrilla, o Ministro cubano das Relações Exteriores, dedicam seus tuítes às relações entre Cuba e a Comunidade do Caribe (CARICOM), a falta de pronunciamento sobre a situação na Síria chamou a atenção entre analistas e opositores cubanos, tendo em vista que Assad era um aliado próximo do regime cubano.

Último tuíte na conta de Díaz-Canel antes da publicação desta informação.

Historicamente, Havana tem estado entre os aliados da ditadura síria. Em 1973, Cuba enviou uma brigada de tanques para a guerra contra Israel, na qual participava o então ditador sírio Hafez al-Assad, pai do deposto presidente Bashar al-Assad.

Em seu momento, o ditador Fidel Castro qualificou de "amizade sólida" a relação entre os dois países e afirmou que "a Síria apoia constantemente as posturas políticas de Havana".

Em 2010, Bashar al-Assad fez uma visita oficial a Cuba, reafirmando "os profundos e inquebrantáveis laços de amizade" entre os dois governos.

Al Assad foi recebido em junho de 2010 por Raúl Castro em Havana. Foto: Prensa Latina.

Essa relação continuou se evidenciando no âmbito internacional, como ocorreu em março de 2021, quando Cuba votou contra o projeto de resolução intitulado “Situação dos direitos humanos na República Árabe Síria”, debatido no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

A iniciativa, apresentada por várias nações, condenava enfaticamente as violações e abusos dos direitos humanos na Síria, assim como os crimes de lesa humanidade e de guerra atribuídos ao regime de al-Assad.

Daí as particularidades do silêncio do regime cubano, que dias antes havia declarado nas redes sociais seu apoio à ditadura síria e a Assad, em um momento em que o clima político naquele país se tornava cada vez mais tenso.

Captura de X/Embaixada de Cuba na Síria

Precisamente, no dia 4 de dezembro passado, o Ministro cubano das Relações Exteriores, Rodríguez Parrilla, afirmou que havia conversado por telefone com Bassam Sabbagh, o Chanceler da Síria.

"Reitero o apoio e solidariedade de #Cuba ao povo e ao Governo sírios, diante dos ataques de grupos terroristas contra várias cidades do país e da necessidade de preservar a soberania e a integridade territorial dessa nação irmã", afirmou Rodríguez Parrilla em sua conta no X.

Captura de X/Bruno Rodríguez Parrilla

Dias depois, e em meio à digestão desse evento, que marca uma reviravolta inesperada no cenário político do Oriente Médio, os meios de comunicação oficiais cubanos se limitaram a compartilhar a notícia da queda, sem maiores comentários para um público manipulado.

O Canal Caribe focava nas reações de vários países árabes aos acontecimentos. Enquanto isso, o Cubadebate ia um pouco além e informava aos cubanos que Assad estava asilado em Moscou.

Captura do Facebook/Centro Visão Yayabo

Em um momento em que a política global se reconfigura após a saída de al-Assad do poder, e ciente de que tanto o regime sírio quanto o cubano compartilham características autoritárias, incluindo o uso de repressão para sufocar o descontentamento interno, o silêncio de Havana parece ser mais uma estratégia calculada do que uma mera omissão, deixando no ar perguntas sobre o futuro de suas alianças internacionais e o impacto em sua já desgastada imagem política.

Perguntas frequentes sobre o silêncio do governo cubano diante da queda de Bashar al-Assad.

Por que o governo cubano permanece em silêncio sobre a derrubada de Bashar al-Assad?

O silêncio do governo cubano diante da derrubada de Bashar al-Assad parece ser uma estratégia calculada para evitar uma confrontação diplomática em um momento em que suas alianças internacionais estão comprometidas. Cuba historicamente manteve uma relação próxima com a Síria, apoiando o regime de Assad em fóruns internacionais, portanto, seu silêncio atual é notável e pode refletir uma tentativa de recalibrar sua posição diplomática.

Qual tem sido a relação histórica entre Cuba e o regime de Assad na Síria?

Cuba manteve uma sólida relação diplomática com o regime de Assad ao longo de décadas. Em 1973, Cuba enviou tropas para apoiar a Síria na guerra contra Israel e, desde então, tem apoiado o regime sírio em fóruns internacionais, rejeitando resoluções que condenavam as violações dos direitos humanos na Síria. Essa relação se baseou em um apoio mútuo no âmbito internacional e na consolidação de alianças estratégicas.

Quais são as implicações da queda de Assad para Cuba?

A queda de Assad representa um golpe diplomático significativo para Cuba, que perde um aliado crucial em sua política externa. Isso pode intensificar o isolamento internacional do regime cubano e afetar negativamente sua capacidade de manter sua influência no cenário global. A nível interno, o silêncio do governo cubano pode ser interpretado como uma tentativa de evitar críticas adicionais sobre sua própria gestão autoritária.

Como o derrubamento de Assad afeta as relações de Cuba com outros aliados internacionais?

A queda de Assad poderia complicar as relações de Cuba com seus aliados internacionais, como a Rússia e o Irã, que também apoiaram o regime sírio. Esses países veem ameaçada sua influência no Oriente Médio, o que pode impactar suas alianças estratégicas. Para Cuba, a perda de um aliado como a Síria representa um desafio na redefinição de suas políticas externas e alianças internacionais.

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