No âmbito da Feira Internacional de Havana (FIHAV) 2024, o ministro da Comunicações e Tecnologia da Informação do Irã, Dr. Seyed Sattar Hashemi, teve um encontro com o governante cubano Miguel Díaz-Canel, diante de quem afirmou sentir-se “como em sua própria casa”.
Durante a conversa, Díaz-Canel elogiou a presença do ministro Hashemi na FIHAV e destacou a forte representação de empresas iranianas no evento, que expressaram seu interesse em "colaborar com Cuba".
Hashemi, em um gesto que ressalta a sintonia entre os dois regimes, comentou que se sente “como em casa” na ilha, trazendo uma mensagem de solidariedade e irmandade do presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, para Díaz-Canel e o povo cubano.
Esta familiaridade, longe de ser casual, baseia-se em uma afinidade ideológica profunda e em uma colaboração política que cresceu diante das condenações da comunidade internacional, assim como pelo mútuo desprezo pelos valores democráticos e pela afinidade com o controle autoritário.
Alianças Estratégicas e Compromisso Autocrático
Esse vínculo entre os regimes de Cuba e Irã não é novo. Ao longo da última década, as visitas de alto nível entre os dois países se multiplicaram.
Em julho de 2024, o primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, viajou a Teerã para assistir à posse de Pezeshkian, reafirmando o compromisso do regime cubano com seu homólogo iraniano.
Nesse encontro, Marrero destacou as “relações históricas” entre ambas as autocracias e sua “convergência na esfera internacional” ao enfrentarem sanções e isolamentos impostos por países democráticos que condenam suas práticas repressivas.
Esses intercâmbios diplomáticos também se estendem ao âmbito econômico. Em 2022, ambos os regimes propuseram estabelecer uma rota aérea direta entre Havana e Teerã, um projeto que facilitaria o comércio e o turismo, reforçando sua cooperação em áreas como saúde, tecnologia e investimentos.
Essas iniciativas se inserem em uma estratégia mais ampla de apoio mútuo, por meio da qual procuram contornar o isolamento e criar uma frente unida diante da pressão internacional.
Repressão e Controle da Liberdade de Imprensa
A afinidade entre Cuba e Irã também se reflete no desprezo pela liberdade de imprensa e na imposição de rigorosos controles sobre a informação.
Em seu relatório de 2024, Repórteres Sem Fronteiras (RSF) coloca Cuba na 168ª posição de 180 em liberdade de imprensa, enquanto o Irã está ainda mais abaixo, na 176ª posição.
Ambos regimes mantêm um ambiente hostil para o jornalismo independente, impondo restrições severas à liberdade de expressão e perseguindo os meios de comunicação e jornalistas que tentam trabalhar fora do controle do Estado.
Em Cuba, todos os meios de comunicação estão sob o controle do regime, e a imprensa privada é proibida. Os jornalistas que tentam informar de forma independente são monitorados, detidos e silenciados sob ameaças. O Decreto Lei 370 criminaliza a publicação de conteúdo crítico em redes sociais e plataformas digitais, criando um ambiente de autocensura e repressão constante.
Por sua vez, o Irã utiliza estratégias semelhantes, com detenções arbitrárias de jornalistas e bloqueios de internet em momentos de protesto, além de censurar as redes sociais para limitar a circulação de informações.
A Freedom House, que monitora os direitos digitais, classifica ambos os países como "Não livres" em termos de acesso à internet. As interrupções de internet e o bloqueio de aplicativos de mensagens tornaram-se ferramentas comuns de ambos os regimes para sufocar a dissidência, especialmente em momentos de mobilização social.
Complicidade Ideológica: Uma Aliança Antidemocrática
A presença do ministro Hashemi em Cuba e suas declarações de se sentir “em casa” revelam a sólida conexão ideológica entre ambos os regimes.
A aliança não se baseia apenas em interesses econômicos, mas em uma visão compartilhada de um modelo autocrático, onde a informação e a opinião pública estão submetidas a um rigoroso controle estatal.
Essa afinidade lhes permite projetar uma imagem de resistência perante a comunidade internacional, enquanto consolidam seus mecanismos de censura e manipulação interna.
Ao reforçar seus laços por meio de intercâmbios em áreas como a tecnologia da informação, Cuba e Irã buscam fortalecer seus aparelhos de controle, cruciais para manter a coesão em seus respectivos sistemas.
A colaboração não apenas lhes permite apoiar suas narrativas antiocidentais em fóruns internacionais, mas também desenvolver tecnologias que facilitem o monitoramento da população e reforcem suas posições autocráticas.
Essa aliança, inserida em uma agenda de cooperação ativa e um desprezo compartilhado pelos valores democráticos, é o reflexo de um bloco de resistência que desafia os princípios de liberdade e transparência, configurando um cenário de repressão e autocensura que afeta profundamente suas sociedades.
A FIHAV 2024 foi inaugurada sob alerta de furacão e em plena crise energética em Cuba. Com mais de 700 expositores de 63 países, o evento busca atrair investimentos estrangeiros cruciais para o regime cubano, que enfrenta um colapso econômico agravado pela falta de eletricidade e pela crescente pobreza.
Neste contexto, a visita do ministro iraniano de Comunicação, Dr. Seyed Sattar Hashemi, simboliza a aliança ideológica e econômica entre Cuba e Irã, cujos regimes compartilham uma postura autoritária e desafios em comum, buscando sustentar-se por meio da colaboração em áreas estratégicas e controle sobre a informação.
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