El Niño e La Verdad se pronunciam de forma contundente sobre a polêmica com o Micha.

“Até quando? Por que alguém que tem um microfone na frente tem o poder de sancionar, de obrigar alguém a fazer algo que não quer fazer? Por qual razão?"


Emilio Frías, diretor da orquestra El Niño y La Verdad, exigiu respeito para os artistas residentes nos EUA que queiram cantar em Cuba e se mostrou categórico sobre a polêmica em que se envolveu El Micha após deixar um estúdio em Miami quando questionado sobre suas viagens à ilha.

“Os homens não têm que viver sob pressão de nenhum tipo, nem daqui, nem de lá. Aquele que sabe o que dá, te diz A Verdade, se levanta e vai”, escreveu Frías em suas redes sociais junto com um vídeo de cerca de dez minutos em que explicou sua posição.

O artista deixou claro que ele, pessoalmente, não irá cantar em Cuba até que o governo mude, mas exigiu respeito por aqueles que decidirem fazê-lo.

“Até quando? Por que alguém que tem um microfone na frente tem o poder de sancionar, de obrigar alguém a fazer algo que não quer fazer? Por qual razão? Por qual razão, se você não quer dizer 'Abaixo a ditadura', você tem que dizer?", questionou El Niño e La Verdad, que precisou que é amigo de El Micha (Michael Fernández Sierra Miranda) há muitos anos, embora diga que não se veem há tempo.

“¿El Micha é comunista agora porque quer tocar em Cuba? El Micha sente falta de Cuba porque Cuba se leva no coração. Não há outro público como aquele de lá dentro, não existe, e isso não tem a ver com o governo, isso não tem a ver com a ditadura”, acrescentou o músico, que insistiu que “Michael não é comunista” e que só “quer tocar para o seu povo”.

“Até quando vai durar a caça às bruxas contra os artistas?”, questionou em seguida.

“Eu não sou quem para julgá-lo. Eu não vou julgá-lo. Eu não vou tocar enquanto esse governo estiver. Não vou ir, mas esse sou eu, e não vou ir por tudo que me fizeram e pela forma como tive que sair”, explicou em relação ao seu caso em particular.

O músico fez referência a El Taiger, a Dani Ome e a outros artistas que decidiram voltar a se apresentar na ilha e destacou que isso deve ser vontade de cada um e não ditado por terceiros.

“Quem quiser ir a Cuba que vá para Cuba, e quem quiser se imolar por essa causa, como fizeram um monte de grandes, como fez Celia [Cruz] e como fez Willy [Chirino], que o faça, assim penso em fazer eu, mas quem não quiser fazer, que não faça, senhor. Já está bom, deixem a loucura já, cada vez mais desunidos”, sublinhou.

Emilio Frías aproveitou para fazer referência -de forma geral- a muitas pessoas que agora vivem em Miami e que, enquanto estavam na ilha, se beneficiaram de privilégios do governo.

“Todavia nesta cidade há pessoas que têm negócios do lado de lá, e pessoas que vivem lá que têm negócios em Miami e falo de pessoas grandes”, insinuou sem mencionar nomes.

Segundo Frías, o que não se pode permitir a um artista que vive em Miami é gritar “¡Viva la revolución!”.

“O artista que queira ser imparcial, que o seja; o que não pode é gritar 'Viva Fidel!', nem dizer que em Cuba não há uma ditadura, mas El Micha fez uma canção contra isso. Se precisa tocar em Cuba, que vá e toque em Cuba”, acrescentou o intérprete, que pediu aos cubanos que não sigam mais o jogo das pessoas que criaram tanta desunião e tanto dor na comunidade.

“Aqui há uma pilha de gente que está vivendo com essa dor há uma pilha de anos. Este negócio das duas margens dura há uma pilha de anos, até os políticos estão brincando com isso. Não se deixem enganar mais. Não ataquem mais os artistas, deixem que os artistas façam arte”, reiterou.

“Essa é a democracia e essa é a liberdade. Com tantos anos que estão aqui, muitos não entenderam. Por que razão eu tenho que dizer o que você quer que eu diga e quando você quiser? Quem empurra não se dá golpes”, acrescentou o cantor, que aproveitou para esclarecer que, em seu caso, ele não cantará em Cuba, mas que visitará sua família assim que puder.

“Respeitem, se estão em um país de liberdade, respeitem que cada um faça o que quiser”, concluiu.

Nas últimas horas, viralizou nas redes sociais o momento em que El Micha deixou o set de gravação do programa El Toro Loco Show após esclarecer que ele vai e vem a Cuba porque quer.

“Há programas e programinhas, há profissionais como Tony Dandrades e Enrique Santos, e há outros, um bando de ximplórios, fazendo-se de mais patriotas para conseguir um like e lucrar com o mesmo tema", escreveu El Micha no Instagram ao compartilhar um fragmento do momento em questão.

Nos últimos meses, o cantor tem estado no centro da polêmica e não apenas por suas frequentes viagens a Cuba para cantar, mas também por posturas que muitos interpretaram como uma forma de dar as costas ao exílio cubano em Miami.

Em uma recente entrevista para Tony Dandrades, o reguetonero deixou claro que tem intenções de continuar vivendo em Miami e viajando à ilha para cantar para seu público, principalmente após seu último disco, para o qual gravou vários videoclipes em Cuba.

O reguetonero explicou por que sua postura em relação a Cuba mudou: “Percebi quem sou, de onde venho, quando você começa a olhar para trás, precisa perceber tudo o que conquistou por si mesmo.”

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