O Serviço Militar Obrigatório volta a cobrar uma nova vítima em Cuba. A cidade de Baracoa (Guantánamo) está chocada com a morte do jovem Flavio Raúl Alonso Piedra, de 20 anos, encontrado morto na guarita onde fazia a guarda como recruta, a três meses de terminar sua etapa de soldado nas Forças Armadas. Neste 24 de agosto, ele completaria 21 anos.
Fontes do entorno do jovem não acreditam na versão oficial da prisão onde o jovem estava fazendo o serviço militar, pois disseram à família que ele havia se enforcado com seu cinto, apesar de ter nas mãos uma AKM com a qual poderia ter se disparado. Também poderia ter pulado da guarita, situada a uma altura considerável, mas segundo os chefes da unidade, ele se enforcou. "Eles o encontraram de joelhos, com a cabeça para trás e os olhos bem abertos", diz uma pessoa próxima à família.
Tan abertos tinha os olhos, que à mãe, que foi a primeira a vê-lo, foi difícil fechá-los. Estava como assustado, como surpreso pelo que tinha visto, acrescenta a mesma fonte.
Flavio Alonso Piedra não tinha problemas psicológicos nem se sentia mal. Saía de passeio nos fins de semana e tinha planos para ir nesta sexta-feira ao aniversário de um amigo da unidade. "Ele havia comprado roupas e estava animado para a chegada da sexta-feira", acrescenta outra fonte.
O corpo de Flavio Alonso foi encontrado sem vida nesta quarta-feira, 8 de agosto, pela manhã. A família o velou em casa durante esta quinta-feira, 9 de agosto, até que às duas da tarde o levaram para um local onde pode ser congelado, à espera da chegada de seu irmão Pavel Alonso Piedra, que viajou dos Estados Unidos por Holguín para ir ao sepultamento.
O pai de Flavio Alonso recebeu a notícia em Camagüey, onde tinha viajado para acompanhar um familiar ao médico. Em Baracoa, estavam sozinhas a mãe e a bisavó do falecido, já bastante idosa. Pessoas próximas ao pai afirmam que ele desmaiou de dor pela morte do filho. Sua mãe teve que ser sedada. Ninguém esperava algo assim.
Uma fonte consultada assegura que na autópsia não há marcas do cinto no pescoço e que os peritos semearam a dúvida de que pode ter sido um assassinato e não um suicídio, como afirmam os responsáveis pela unidade militar. Um parente que não quis nem confirmar nem desmentir o ocorrido limitou-se a esclarecer que os fatos estão sendo investigados.
"Todavia não investigamos a fundo", aponta uma pessoa do entorno do falecido, que assegura que a mãe, que foi quem falou com os peritos forenses, não está em condições de explicar nada a ninguém porque neste momento está devastada.
"Há muitas histórias. Há quem diga que o encontraram morto no dormitório, enforcado com o cordão da AKM", aponta outra fonte.
"Ele tinha em suas mãos uma AKM. Poderia ter se dado um tiro. Poderia ter se jogado da guarita. Isso tem dois ou três metros de altura. Vai se enforcar com o cinto? Estava em um lugar com muita visibilidade e ninguém viu nada. Alguém teve que ter visto algo", acrescenta uma fonte próxima ao falecido.
"Todo aquele que o conhece e sabe quem ele é, duvida disso. Isso não poderia ter sido um suicídio. Eu queria vê-lo no caixão. Seus olhos foram forçados para poderem ser fechados", conclui um conhecido de Flavio Alonso Piedra. Uma vizinha acrescenta que não acredita em nada porque "ele era uma criança muito alegre".
O caso de Flavio Alonso não é um fato isolado. Cada vez mais são os testemunhos de famílias que perderam seus filhos enquanto cumprem o serviço militar. Às vezes, perdem a vida em circunstâncias jamais esclarecidas. Outras vezes, são suicídios porque ignoram as orientações médicas que desaconselham que uma pessoa seja recrutada para o serviço se não for apta psicologicamente.
Foi o que aconteceu com Maikol Arcia Hernández, um jovem cubano que tirou a própria vida em 2023 enquanto estava no serviço. Ele já havia avisado ao seu avô sobre suas intenções de se matar e, embora a família tivesse informado a unidade, o oficial responsável disse que isso eram "malcriações".
Ocorreu o mesmo em junho de 2024 com o soldado cubano Leandro Muñoz Zamora, que se jogou de um ônibus militar em movimento e a família considera que "poderia ter sido evitado". O jovem de 20 anos, natural de Santa Clara, faleceu no ato, pouco depois de falar com sua namorada e comentar o que já havia decidido fazer. Tinha "documentos" que desaconselhavam sua entrada no Serviço Militar por problemas psicológicos, mas foi convocado e trasladado de Santa Clara para Matanzas para trabalhar seis meses na construção. No caminho para Matanzas, tirou a própria vida.
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