O ministro da Saúde Pública em Cuba, José Angel Portal Miranda, informou nesta terça-feira aos deputados da Comissão de Saúde e Desporto do Parlamento cubano que a escassez de medicamentos continuará na rede de farmácias em todo o país.
"Dizer que esta situação será resolvida nos próximos dias seria irresponsável", afirmou o ministro, justificando a escassez devido à falta de financiamento e problemas de organização interna, conforme relatado pelo portal oficialista CubaDebate.
O titular do setor atribuiu a situação ao embargo econômico, ao aumento dos preços das matérias-primas e ao alto custo do frete, fatores que, segundo ele, agravam o problema.
O portal admitiu perante os deputados que os problemas vão desde a produção e importação até a dispensação de medicamentos em farmácias comunitárias e instituições, reconhecendo assim a gravidade e extensão da escassez.
Esta lamentável situação, que afeta a cidadania, foi confirmada por Cristina Luna Morales, presidente da comissão, que destacou a grande preocupação das pessoas com a venda ilícita de medicamentos, atualmente a única forma pela qual muitos podem ter acesso a certos medicamentos.
Como parte de uma verificação realizada no funcionamento das farmácias comunitárias e hospitalares, Luna informou que o problema da escassez é recorrente em todo o país e tem um impacto negativo nos serviços prestados pelo Sistema Nacional de Saúde.
Por sua vez, María Cristina Lara Bastanzuri, diretora nacional de Medicamentos e Tecnologias Médicas do Minsap, indicou que o desabastecimento afeta de maneira particular os produtos de cartão controle (venda por cartão) e medicamentos de uso comum.
"80% dos medicamentos dispensados nas farmácias são produzidos pela indústria nacional", afirmou.
A funcionária admitiu que atualmente só conseguem abastecer 30% do quadro básico de medicamentos.
Além disso, reconheceu que foram obrigados a "transferir os medicamentos que estão nos hospitais, policlínicas, para que estejam disponíveis, por exemplo, quando uma criança precisa deles".
A funcionária reconheceu que existem problemas internos que também afetam a baixa disponibilidade de medicamentos, admitindo que às vezes os medicamentos estão em Cuba e "não conseguimos disponibilizá-los de forma oportuna, não só devido ao combustível e ao transporte, mas também porque o pessoal de outras instituições que nos prestam serviços é afetado".
Por último, Lara explicou que o número de pacientes que precisam de cartão de controle tem aumentado. Em relação a essa situação, ela culpou os médicos ao dizer que eles, "em sua desesperação para que o paciente tenha pelo menos um medicamento, prescrevem o que está disponível, em vez do que ele realmente precisa".
O relatório apresentado aos deputados também apontou outras causas para a escassez de medicamentos, como a migração e os baixos salários, que se refletem na redução de pessoal especializado, incluindo técnicos e licenciados.
Além disso, eles apontaram que a nível nacional o plano de produção de produtos naturais não está sendo cumprido, tanto em volume quanto em variedade, uma alternativa que o regime tem defendido repetidamente como solução para a escassez.
Apontaram como causas a falta de massa vegetal, açúcar refinado, álcool natural e outras matérias-primas farmacêuticas.
Em relação à implementação dos novos preços dos produtos naturais, o relatório reconheceu que foi uma política equivocada, pois houve uma diminuição nas vendas dos produtos devido ao aumento dos preços das matérias-primas para sua produção.
Situação que se agrava porque as empresas farmacêuticas não têm transporte administrativo e de carga, segundo CubaDebate.
O relatório apresentado aos deputados refletiu que Cuba conta com mais de 3.000 unidades nos serviços farmacêuticos, incluindo 2.202 farmácias comunitárias e mais de 600 em instituições.
Além disso, destacaram que existem 17 empresas de farmácias e óticas, subordinadas aos governos provinciais, que por sua vez dirigem as farmácias comunitárias, 77 centros de produção local e outras unidades.
Por último, o documento indicou que o atual quadro básico de medicamentos é composto por 651 produtos. A indústria gera 62% do total, com 401 itens, enquanto 250 são importados pelo Ministério da Saúde Pública. Desses, 292 medicamentos são vendidos na rede de farmácias.
Diante da atual escassez na rede farmacêutica, o regime cubano se viu obrigado a estender a isenção de tarifas para alimentos, produtos de higiene e medicamentos para viajantes vindos do exterior, como uma medida desesperada para aliviar a crise no acesso aos medicamentos.
No início do ano, o governante Miguel Díaz-Canel reconheceu que a escassez de medicamentos e insumos médicos continuará na ilha, onde as farmácias estão desabastecidas e faltam dezenas de produtos do quadro básico.
Esta situação é evidenciada na tentativa desesperada das pessoas de comprar os poucos produtos que ocasionalmente chegam às farmácias, chegando até mesmo a dormir de um dia para o outro para garantir um bom lugar nas longas filas.
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